sexta-feira, 8 de abril de 2011

O barco e as ondas



Tentação, a palavra temível.

Quase sempre intentamos fugir dela para simplesmente desertar do trabalho e, por consequência, da escola que o trabalho representa. E caímos no logro.

Largamos o posso da dificuldade construtiva para arrojarmo-nos no abismo da inércia onde arrasamos o tempo.

Analisamos aprendizes, testamos máquinas, provamos quitutes caseiros.

Tentação é o recurso que a sabedoria da vida emprega para dar-nos o conhecimento de nós próprios.

Se o dinheiro não nos sugere a busca de prazeres desmesurados para os sentidos e se não lhe opomos o freio do discernimento, como poderemos saber que ele deve ser utilizado para a criação das alegrias nobres que nos enriquecem a alma?

Se o mal não nos convida algum dia a cultuar-lhe os desequilíbrios e se não lhe resistimos aos impulsos, de que maneira aprenderemos que o bem deve ser incorporado em definitivo ao nosso campo espiritual para ser usado naturalmente por nós como o ar que se respira?

Além disso, entendamos que a tentação é o agente que nos pesquisa a reabilitação, diante das leis divinas.

Se estamos na bengala dos cegos ou no catre dos paralíticos – conquanto a alusão não signifique qualquer desrespeito a eles, - já vivemos sob regime de bloqueio transitório entre as forças da vida e ninguém pode reconhecer, de imediato, o que faríamos da luz ou do movimento, se os tivéssemos ao dispor.

Assim é que ninguém se faz claramente conhecido, enquanto se encontra sob o guante da expiação ou da prova.

Estudemos a tentação quando chegue. Pelo modo que surge ou pelas gratificações que proponha, sabemos o que somos e o que nos cabe fazer.

Achamo-nos todos em evolução e, concomitantemente, em tentações que chegam por tabela. Cada uma em hora determinada e em problema certo. Saibamos superá-las para crescer e elevar-nos.

Sem tentação, impossível a tarefa da perfeição.

Recordemos o barco e as ondas que procuram submergi-lo.

Sem elas jamais chegaria ao porto, mas é preciso vara-las sem permitir que entrem nele.

André Luiz/Francisco Cândido Xavier

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